quinta-feira, 31 de julho de 2008

Luis Fernando Veríssimo.

























O Recital


Uma boa maneira de começar um conto é imaginar uma situação rigidamente formal — digamos, um recital de quarteto de cordas — e depois começar a desfiá-la, como um pulôver velho.

Então vejamos. Um recital de quarteto de cordas.
O quarteto entra no palco sob educados aplausos da seleta platéia.

São três homens e uma mulher. A mulher, que é jovem e bonita, toca viola.

Veste um longo vestido preto. Os três homens estão de fraque. Tomam os seus lugares atrás das partituras. Da esquerda para a direita: um violino, outro violino, a viola e o violoncelo. Deixa ver se não esqueci nenhum detalhe. O violoncelista tem um grande bigode ruivo. Isto pode se revelar importante mais tarde, no conto. Ou não.
Os quatro afinam seus instrumentos. Depois, silêncio. Aquela expectativa nervosa que precede o início de qualquer concerto. As últimas tossidas da platéia.

O primeiro violinista consulta seus pares com um olhar discreto. Estão todos prontos, o violinista coloca o instrumento sob o queixo e posiciona seu arco. Vai começar o recital. Nisso...
Nisso, o quê? Qual a coisa mais insólita que pode acontecer num recital de um quarteto de cordas? Passar uma manada de zebus pelo palco, por trás deles? Não. Uma manada de zebus passa, parte da platéia pula das suas poltronas e procura as saídas em pânico, outra parte fica paralisada e perplexa, mas depois tudo volta ao normal.

O quarteto, que manteve-se firme em seu lugar até o último zebu — são profissionais e, mesmo, aquilo não pode estar acontecendo — começa a tocar. Nenhuma explicação é pedida ou oferecida. Segue o Mozart.
Não. É preciso instalar-se no acontecimento, como a semente da confusão, uma pequena incongruência. Algo que crie apenas um mal-estar, de início e chegue lentamente, em etapas sucessivas, ao caos. Um morcego que posa na cabeça do segundo violinista durante um pizzicato. Não. Melhor ainda.

Entra no palco um homem carregando uma tuba.
Há um murmúrio na platéia. O que é aquilo? O homem entra, com sua tuba, dos bastidores. Posta-se ao lado do violoncelista. O primeiro violinista, retesado como um mergulhador que subitamente descobriu que não tem água na piscina, olha para a tuba entre fascinado e horrorizado.

O que é aquilo? Depois de alguns instantes em que a tensão no ar é como a corda de um violino esticada ao máximo, o primeiro violinista fala:
— Por favor...

— O quê? — diz o homem da tuba, já na defensiva.

— Vai dizer que eu não posso ficar aqui?

— O que o senhor quer?

— Quero tocar, ora. Podem começar que eu acompanho.


Alguns risos na platéia. Ruídos de impaciência. Ninguém nota que o violoncelista olhou para trás e quando deu com o tocador de tuba virou o rosto em seguida, como se quisesse se esconder. O primeiro violinista continua:


— Retire-se, por favor.

— Por quê? Quero tocar também.
O primeiro violinista olha nervosamente para a platéia. Nunca em toda a sua carreira como líder do quarteto teve que enfrentar algo parecido. Uma vez um mosquito entrou na sua narina durante uma passagem de Vivaldi. Mas nunca uma tuba.

— Por favor. Isto é um recital para quarteto de cordas. Vamos tocar Mozart. Não tem nenhuma parte para a tuba.

— Eu improviso alguma coisa. Vocês começam e eu faço o um-pá-pá.


Mais risos na platéia. Expressões de escândalo. De onde surgiu aquele homem com uma tuba? Ele nem está de fraque. Segundo algumas versões veste uma camisa do Vasco. Usa chinelos de dedo. A violista sente-se mal.

O violinista ameaça chamar alguém dos bastidores para retirar o tocador de tuba a força. Mas ele aproxima o bocal do seu instrumento dos lábios e ameaça:

— Se alguém se aproximar de mim eu toco pof!


A perspectiva de se ouvir um pof naquele recinto paralisa a todos.

— Está bem — diz o primeiro violinista. — Vamos conversar. Você, obviamente, entrou no lugar errado. Isto é um recital de cordas. Estamos nos preparando para tocar Mozart. Mozart não tem um-pá-pá.

— Mozart não sabe o que está perdendo — diz o tocador de tuba, rindo para a platéia e tentando conquistar a sua simpatia.
Não consegue. O ambiente é hostil. O tocador de tuba muda de tom. Torna-se ameaçador:

— Está bem, seus elitistas. Acabou. Onde é que vocês pensam que estão, no século XVIII? Já houve 17 revoluções populares depois de Mozart. Vou confiscar estas partituras em nome do povo. Vocês todos serão interrogados. Um a um, pá-pá.
Torna-se suplicante:

— Por favor, só o que eu quero é tocar um pouco também. Eu sou humilde. Não pude estudar instrumento de cordas. Eu mesmo fiz esta tuba, de um Volkswagen velho. Deixa...
Num tom sedutor, para a violista:


— Eu represento os seus sonhos secretos. Sou um produto da sua imaginação lúbrica, confessa. Durante o Mozart, neste quarteto anti-séptico, é em mim que você pensa. Na minha barriga e na minha tuba fálica. Você quer ser violada por mim num alegro assai, confessa...
Finalmente, desafiador, para o violoncelista:

— Esse bigode ruivo. Estou reconhecendo. É o mesmo bigode que eu usava em 1968. Devolve!
O tocador de tuba e o violoncelista atracam-se. Os outros membros do quarteto entram na briga. A platéia agora grita e pula. É o caos! Simbolizando, talvez, a falência final de todo o sistema de valores que teve início com o iluminismo europeu ou o triunfo do instinto sobre a razão ou ainda, uma pane mental do autor.

Sobre o palco, um dos resultados da briga é que agora quem está com o bigode ruivo é a violista. Vendo-a assim, o tocador de tuba pára de morder a perna do segundo violinista, abre os braços e grita:

"Mamãe!"
Nisso, entra no palco uma manada de zebus


(Luis Fernando Veríssimo)

Troquei A Fechadura Do Meu Carro !!! A Segurança Em Primeiro Lugar !!!!!


Um Colírio Para Os Nossos Cansados Olhos ......






Meu Dentista, Dr. Fábio Faria !!!!! The Best !!!!


Arvorezinhas Safadinhas !!!!!!


Olhe Fixo No Centro !!!


Do Batman, Eu Já Sabia, Mas Superman........


Coil, O Homem-Mola !!!!!


Realmente, "Zera" É Impressionante Com "C" !!!!


Muito Bom !!!!


Campanha Contra O Tabagismo !!!


Levi's. Altamente Criativo !!!!!




segunda-feira, 28 de julho de 2008

Chico Buarque - Construção - 1.971






















Construção
(Chico Buarque)


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido


Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima


Sentou prá descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música


E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público


Morreu na contramão atrapalhando o tráfego...


Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado


Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego


Sentou prá descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo


E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago


Morreu na contramão atrapalhando o público...


Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou prá descansar como se fosse um pássaro



E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado...


Por esse pão prá comer por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer e a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar por me deixar existir

Deus lhe pague...


Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça desgraça que a gente tem que tossir
Pelo andaimes pingentes que a gente tem que cair

Deus lhe pague...


Pela mulher carpideira prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir

Deus lhe pague...


Tarzan.


John Weissmuller e Maureen Sullivan no filme "Tarzan And His Mate."

Os Saltimbancos. Inesquecível !!!!!


A trilha sonora do musical de Chico Buarque encanta gerações desde a primeira montagem, em 1977, que teve no elenco Marieta Severo, Grande Otelo e Miúcha, entre outros artistas, conta a história de quatro bichos que se revoltam contra seus donos.
Inspirado no conto Os Músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm, a fábula é uma divertida reflexão sobre desigualdade social, numa linguagem fácil de entender.
Escrito em 1977, em pleno regime militar, o musical é uma adaptação de Chico para um texto do italiano Sergio Bardotti baseado no conto Os Músicos de Bremen, dos irmãos Grimm.

Curtíssima Temporada. Não Percam !!!!


Atendendo A Pedidos, Prorrogado Até Setembro. Não Percam !!!!!!


Chico Buarque


Nascido numa família de intelectuais (o pai foi o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda), Francisco Buarque de Holanda mudou-se ainda criança do Rio para São Paulo.
Na capital paulista, fez os estudos primários e secundários no Colégio Santa Cruz, onde se apresentou pela primeira vez num palco, com "Canção dos Olhos", uma composição sua.

Em 1963, ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (que cursaria só até o terceiro ano). No ano seguinte, inscreveu-se no festival promovido pela TV Excelsior (São Paulo) com "Sonho de um Carnaval", cantada por Geraldo Vandré.
Começou a ficar conhecido, passando a apresentar-se no Teatro Paramount. Ainda em 1964, participou do programa "O Fino da Bossa", comandado pela cantora Elis Regina.
Sua primeira gravação, de 1965, foi o compacto "Olé Olá".
A consagração, no entanto, viria com o festival de MPB da TV Record (São Paulo). Chico concorreu com a marcha "A Banda", que foi interpretada por Nara Leão e venceu o festival (junto com "Disparada", de Geraldo Vandré).
Chico ganhou projeção nacional, e sua carreira tomou impulso.
Com o acirramento da ditadura militar estabelecida em 1964, a produção artística de Chico sofreu grande impacto.
Em 1967, ele estreou o espetáculo "Roda-Viva", que acabou censurado. Em 1968, dada a repressão política, Chico preferiu o exílio na Itália.
Ali nasceu a primeira filha, Sílvia (viriam ainda Helena e Luisa).
Voltou para o Brasil em 1970 e lançou o álbum "Construção" no ano seguinte.
Em 1972, foi ator em "Quando o Carnaval Chegar", filme de Cacá Diegues para o qual havia composto várias músicas. Chico Buarque ainda faria a trilha sonora do filme "Vai Trabalhar, Vagabundo", dirigido pelo ator Hugo Carvana em 1973.
Também em 1973, em parceria com o dramaturgo Ruy Guerra, escreveu o texto e as músicas da peça "Calabar, o Elogio da Traição".
A peça foi proibida, embora algumas canções tivessem sido gravadas em disco. Em 1974, Chico lançou o álbum "Sinal Fechado", interpretando músicas de outros compositores, e iniciou nova carreira, como escritor, publicando a novela "Fazenda Modelo".
No ano seguinte, escreveu com o dramaturgo Paulo Pontes a peça "Gota d'Água".
Em 1975, Chico lançou o disco "Os Saltimbancos", uma fábula musical que ele traduziu e adaptou do italiano "I Musicanti", de Luiz Enriquez e Sergio Bardotti.
As canções foram grande sucesso e serviram para a montagem teatral "Os Saltimbancos".
Três anos depois, Chico escreveu e compôs as canções da "Ópera do Malandro", peça com a qual ganhou o Prêmio Molière de melhor autor teatral de 1978.
Em 1979, publicou "O Chapeuzinho Amarelo", um livro infantil.
Em 1992, viria o primeiro romance, "Estorvo" e, em 1995, o segundo, "Benjamin".
Chico foi se afastando progressivamente da música para dedicar à literatura, e em 2003 publicou "Budapeste", romance que se tornou sucesso de público e crítica.

Os Paralamas Do Sucesso - Severino - 1.994


Navegar Impreciso
(Herbert Vianna)

(Tom Zé)

A pátria-avó se volta sem memória
De todos estes anos de amor
Um amor sem beijo e sem resposta
Responde agora a uma nova sedução

Teus Joaquins, teus açougueiros
Filhos de uma mãe-avó
Os bons e os maus tratos que te dei
Sucumbem com tamancos, camisetas sob a lei
Que ouviste a nova-velha Europa a te ditar

E voltas tuas costas para mim
Voltas tuas costas para o mar
Prás tuas conquistas, pro teu navegar
Prá tua cruz de malta sobre o azul
Um dia foste forte e generosa
Mas hoje tua memória não tem sul

Não é porque já não se usa navegar
E nem é por tua idade, eterna sois
Mas nunca mais a nossa velha intimidade
O sabor inigualável dos teus pães

(Linton Kwesi Johnson)

Grandmother,
You turn your back with no memory
Of all these years of love
A love without kiss or commitment
Responds to a new seduction

Grandmother,
I am your Joaquim, your butcher
The good and bad times I gave you
Succumb with your clogs
And vest to the law the Europe dictates

And you turn your back on me
You turn your back to the sea
To your conquests, your navigation
Your maltese cross on the blue
Once you were strong and generous
Now your memory has no south

Not because you no longer sail
Not for your age, you are eternal
But never again our old intimacy
That unique taste of your bread